segunda-feira, 17 de março de 2014

Na revolução a degola

Na revolução a degola
Autor: Luiz Alberto Quadros Gonsalves, o Poeta Sem Talento
O velho xirú olhava o fogo no chã,
era bueno o estar matutando consigo;
solidão.
Mate amargo,
lembranças do passado.
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De repente o guri se aprochega de mansinho
"-Vô, vem que a boia está no bidê..."
Um olhar de índio macho desfigura o velhinho
"-Cadê o piquete Xerengue?"
"-Vô, não consigo entender..."
 "-Xerengue, bagual e valente,
nem precisa entender,
só degola..."
Foi esta a resposta do velho Coronel Firmino.
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Logo o velho se transporta
para as banda do Rio Negro,
Não viu, mas lhe contaram,
no chão tanta gente morta
e mais gente no aramado
esperando ser degolado.
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Triste cena de revolução
gente bagual atada com açoiteira
desfiadas em tiras,
são presas
a espera do adaga no pescoço.
"- Degola homem, degola Adão."
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São dois mestres na degola,
dos Pica Pau o milico xerengue
das Maragato o preto Adão.
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A degola é arte triste
Mas entenda-se, o gaúcho
homem acostuma do a não ter luxo
tinha pela faca uma admiração.
No chinaredo disputava os favores da china
nas parelha do trunco ou cancha reta enfrentava o ladrão
era assim chamado que tenta lograr
o bagual que não aceitava não.
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Botas manchadas de sangue até a canela,
o carrasco que a todos observava,
O sangue manchava a camisa de manga arregaçada.
Soldados com olhares arregalados,
(dor que desespera)
"há de forte soldado"
pensava consigo o clarim
que deu o toque que pôs um fim
a resistência dos contedores.
Agora, a espera,
triste espera das dores.
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O jovem ao ser degolado
foi jogado no rio jogado.
Até tem quem ouça um lamento
de clarim
tocado em forma de gemido,
desapontamento
por ter a ordem obedecido.
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O último era o bravo Pedroso
Coronel valente e valoroso.
Mas todo o homem cuera
sendo valente e destemido
tem sempre um inimigo.
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Este não tinha um só
tinha muitos, e ali tinha o Adão
pronto pra, sem dó,
lhe passar o facão.
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Quando estiveres no perigo
fite nos olhos, de frente
e enfrente
o inimigo.
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"Quanto vale a vida de um homem valente e de bem?"
Dizem, perguntou Pedroso
mas, afirmar, como, se não existiam mais os seus homens?
"Valente poder ser. De bem, não sei não. A tua não vale nada, pois está no fio da minha faca."
Agora, no fim derradeiro, que homem mostra sua valentia
virou o pescoço á serventia...
"Degola, negro filha da puta."
Se verdade ou não,
só quem viu pode afirmar,
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E o velho Firmino, porque sofria
agora, no fim da vida?
Sofria, pois se Maragatos mataram em Rio Negro
em Boi Preto
ele, algoz fez também a mesma covardia.
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Foram quase trezentos degolados
pobres soldados.
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Um homem para entrar na história
deve ter algum valor.
Vingança é, também, escória,
feita de sangue e dor.

Obs: Baseado em fatos supostamente reais, acontecidos na Revolução Federalista ou Revolução da Degola. Rio Negro e Boi Preto foram marcados pela covardia da degola de prisioneiros indefesos.

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