A Vida e A Morte do Aquiles, baita xirú
faceiro
Autor: Luiz Alberto Quadros Gonsalves, o
Poeta Sem Talento
- “Se és lindo, Aquiles se chamará”
disse a velha parteira ao lado do leito,
enquanto a mulherada em volta teimava a espiar.
-
Assim vinha ao mundo mais um xirú,
indiozinho metido a besta feito bolo de angu,
sempre procurando algo pra se prejudicar.
-
Danado a penca como focinho de tatu,
arteiro como ele só, fazendo o seu banzé,
endiabrado que quando amolestado,
não disfarçava que ficava incomodado,
entristecia como velha ave uratau,
o indiozinho pobre e jaburu,
o indiozinho pobre e jaburu,
cabisbaixo ficava, o guri que queria ser o
tal.
-
Criou-se o Aquiles apadrinhado
pelo Adonias chimango Velho Coronel,
dono daquela fazenda lá do outro lado
-
E de arte em arte o xirú forte crescia,
era companheiro dos filhos do patrão;
não era empregado não,
embora sempre bem disposto a dar uma mãozinha,
era buenaço na lida e nunca se escondia.
-
A mãe do matreiro se orgulhava faceira,
com aquele bagual forte como erva de
ribanceira.
-
Tava crescendo boenaço o piá,
antes um baita bagunceiro.
-
Agora já homem formado na lida,
embora guaipeca ainda,
virou cusco romantico e um baita chineiro,
não escondia seus pilas,
pobre do seu pouco dinheiro,
havia sempre uma morocha disposta a carregar.
-
E seguia o pobre do índio...sempre faceiro.
-
Aconselhar o rapariga era uma baita besteira,
conselho dito era logo conselho perdido,
o Aquiles nem dava bola pra muita alarida,
pra dinheiro nem dava guarida,
pra dinheiro nem dava guarida,
não era um pouquinho que ia lhe estragar.
-
Fazia torto e novamente, tosco sem prata,
para lida ia um outro cobre ganhar.
-
Sorrindo besta e alegre,
hoje se diz, "com a cara de lata".
hoje se diz, "com a cara de lata".
-
Um dia chegaram dois ginetes na fazendo,
e foram logo dizendo pro coronel:
-"Arrebanha tua gente, aqueles mais valente,
vieram a gauchada lá da fronteira,
gritando forte: índio é revolução".
-
Grito forte aterroriza muita gente,
mas não nós Chimangos, abagualado em bala
tenente,
vamos pra peleia, com a gente é diferente
por isto precisamos de Vosmercê.”
-
Foi fácil do Aquiles compreender
era um gaiato,
mas do entreveiro não ia se esconder.
-
A tropa do Coronel Adonias era grande,
e levava no peito o Rio Grande,
gente disposta a dar a vida por este chão
bendito.
-
Tava o Tonho, o Cléu e o Velho Vicente,
o Aquiles, o filho do patrão e o Seu benedito,
ninguém ficou pra traz
embora todos fossem gente de paz.
-
Toda a gente nova confiava nos veteranos,
sabiam que logo a bala ia pegar,
temiam muito, pois salvo engano,
prisoneiro o inimigo nunca fazia;
até diziam:
“não se gasta pólvora com chimango”
-
Um dia a bala pegou de verdade,
tô longo, não vou contar o entreveiro,
tô longo, não vou contar o entreveiro,
vou dizer somente
que o destino fez a tal de maldade,
como já fez pra muita gente
-
Maldade existe, melhor seguir em frente.
-
Ali, caído rente as pedras do riachinho,
um vulto vítima de bala perdida,
que lhe tirou a alegria da vida.
-
Aquiles, lindo guri arteiro e faceiro,
que não dava guarida pra dinheiro,
foi enterrado na sombra da velha figueira,
ali um pouco perto da ribanceira.
-