Veterano
Autor: Luiz Alberto Quadros Gonsalves, o
Poeta Sem Talento
Veterano que fica cabisbaixo na beira do fogo
enquanto a chaleira chia
e o mate passa a largo,
de mão em mão,
todos sabem o aperto no teu coração.
Nas longas invernadas da vida
padeceu o amaro de mil agouros,
mas sorrias a outros iguais a ti
distribuindo versos e mil tesouros,
tal flores encontradas por colibri.
Tuas mãos calejadas e frias
já compuseram mil poesias.
Hoje estás ai, ao lado do fogo aceso,
lembrando os câmbios que a vida lhe deu
viu o mundo do tiro ao avesso
coração justiceiro,
jamais foste interesseiro
Vertente d’água clara e cristalina
honraste sempre as tuas divisas.
Chimango, libertador ou maragato,
Grêmio, Internacional ou Grená ou Juventude,
o que importa?
Importa a tua grande virtude;
nunca deixou xiru perdido no mato.
As vezes te amorcega no teu eu,
é a sina que a vida te deu,
esta nostalgia dos campos do pago,
da vida bagual e campeira,
as vezes até chora na beira do lago,
ou cuida daquela roseira,
saudade da prenda campeira.
Chinoca buena, caprichosa e mui prendada,
tinha na veia sangue distinto charrua,
dançava como ninguém
peleava na luta da lida também.
A morte, maldita e danada,
lascou forte e sentou-lhe as suas puas.
Agora, veterano na existência calejado
ficas ai, sólito em si, acabrunhado,
tua gente desvelada e diligente
te apanígua no que pode,
mas não pode demais;
assim tu ficas preso e em paz.
Teus dias são na saudade e sólito,
as vezes uma lágrima verte
e rola no teu rosto,
é frio, chuva e agosto.
Tuas mãos calejadas e frias
já compuseram mil poesias.